A política acreana tem um ritmo próprio, diferente do que se vê em outros estados, e talvez até por isso seja sempre surpreendente. Muitos setores, ansiosos por definir posições, tentam antecipar apoios, selar alianças e até decretar rompimentos antes mesmo de o jogo eleitoral começar oficialmente. Mas a verdade é que a campanha de 2026 só terá contornos claros a partir de maio do próximo ano, quando abril se encerrar e junto com ele os prazos de desincompatibilização. Até lá, o que existe é apenas um aquecimento, um exercício de projeções e especulações que, se mal conduzido, mais atrapalha do que ajuda.
Não se faz política com o fígado, tampouco com os rins, como se diz de forma popular. Política exige razão, cálculo, paciência e, sobretudo, maturidade. Movimentos impensados, atos bruscos e declarações precipitadas não configuram estratégia, mas impulsividade. Quem age pela emoção se torna refém da maré dos boatos, das más companhias e das influências equivocadas, perdendo a chance de se firmar como liderança capaz de conduzir processos complexos.
A política é comparável ao xadrez. Nenhum jogador começa a partida com um xeque-mate. Primeiro, é preciso abrir o jogo, movimentar as peças, estudar o adversário e compreender o tabuleiro. Só depois de várias jogadas, de idas e vindas, é que se cria a possibilidade de encurralar o oponente e alcançar a vitória. Quem entra na disputa acreditando que pode definir a partida antes do apito inicial demonstra desconhecimento das regras e falta de preparo para a competição.
É nesse contexto que ganha repercussão a notícia publicada nesta sexta-feira em um site local, segundo a qual a vice-governadora Mailza teria rompido com o prefeito Tião Bocalom, ambos situados no mesmo campo da direita acreana. Se confirmada, a informação é reveladora de um equívoco estratégico e, sobretudo, de uma falta de aconselhamento político adequado. Uma liderança que cogita disputar o governo do Estado precisa, antes de tudo, mostrar desenvoltura, serenidade e visão de futuro. Precisa articular, dialogar, agregar e compor alianças. Romper prematuramente, sem que o cenário esteja consolidado, é um gesto que fragiliza mais do que fortalece.
A desenvoltura de um candidato na pré-campanha é um indicativo importante de sua capacidade futura. Não basta ter nome ou cargo; é preciso demonstrar habilidade para aglutinar forças, superar divergências e criar convergências. O eleitor não escolhe apenas propostas: ele observa o perfil do candidato, sua postura, sua maturidade. Uma campanha é um exercício de gestão. Quem organiza bem uma pré-campanha, quem estrutura uma campanha eficiente, revela traços fundamentais de quem pode gerir o setor público. A política, embora distinta da iniciativa privada, exige atributos semelhantes: planejamento, visão estratégica, capacidade de liderança e habilidade de tomar decisões acertadas em meio a pressões.
Ao se precipitar, a vice-governadora dá sinais de que ainda não assimilou essa lição. O caminho natural seria fortalecer pontes, não queimá-las. Aprender a esperar o tempo certo, compreender o valor das etapas e respeitar o calendário democrático é o mínimo esperado de quem se apresenta como alternativa de poder. A política não é feita de rompantes, mas de construção gradual. É na capacidade de atravessar crises, suportar pressões e manter a serenidade diante das adversidades que uma liderança se mostra preparada para governar.
O Acre precisa de líderes que olhem além do imediatismo, que não se deixem guiar por ressentimentos ou impulsos, mas que entendam a importância da construção coletiva. A antecipação exagerada do jogo eleitoral não contribui para o fortalecimento das instituições, nem para a definição de projetos consistentes. Ao contrário, gera ruídos, instabilidade e descrédito. O povo acreano, que acompanha atento os movimentos da política, espera maturidade de seus representantes.
Por isso, mais do que se deixar levar por manchetes e rumores, é necessário que cada liderança compreenda que o tempo da política é diferente do tempo da ansiedade. A paciência estratégica é um atributo indispensável. O jogo só começa de fato em maio de 2026. Até lá, as movimentações devem ser de preparação, de escuta, de diálogo. Só assim será possível construir candidaturas sólidas, com base real de apoio, com perfil conciliador e gestor, capazes de se apresentar como alternativas viáveis para governar o Estado.
No fim, a política é um teste de maturidade. Quem não souber esperar, quem não compreender o tempo certo das coisas, dificilmente passará no exame das urnas. E o eleitor, cada vez mais exigente, saberá distinguir entre aqueles que agem com precipitação e os que sabem jogar com serenidade o verdadeiro jogo da democracia.
*José Américo Silva é jornalista, especialista em gerenciamento de crises e pós-graduado em Gestão da Comunicação Integrada
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