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MÁRCIA LINDOSO

Inclusão ou apenas integração? A realidade da educação para pessoas com deficiência em Senador Guiomard

Foto: Reprodução

Entre o discurso e a realidade: o que falta para a inclusão plena?

 

Apesar dos avanços legais e dos discursos públicos que apontam para uma sociedade mais inclusiva, a realidade das pessoas com deficiência no município de Senador Guiomard, no Acre, ainda está longe de refletir o que determina a legislação brasileira. No campo da educação, sobretudo, os desafios vão muito além do acesso à escola — eles tocam a falta de estrutura, de profissionais capacitados, de políticas públicas contínuas e, principalmente, de vontade política para transformar esse cenário.

 

A Lei Brasileira de Inclusão e a prática local

 

A Lei Brasileira de Inclusão (LBI – Lei nº 13.146/2015) garante o direito ao ensino regular com atendimento educacional especializado (AEE), tecnologias assistivas e suporte necessário para que os estudantes com deficiência possam desenvolver-se em igualdade de condições. Contudo, no município, essa realidade ainda é frágil. O que se observa, na prática, é uma inclusão parcial — muitas vezes confundida com integração — em que o aluno com deficiência é colocado na sala de aula regular, mas sem que haja adaptações significativas no currículo, nos métodos de ensino, ou nas estruturas físicas das escolas.

 

Despreparo, estrutura precária e falta de recursos

 

Há registros pontuais de capacitações para professores e mediadores, mas elas não ocorrem de forma sistemática. As escolas da rede pública municipal e estadual, embora atendam alunos com deficiência, muitas vezes não dispõem de equipes multidisciplinares, nem de ambientes adequados ou recursos didáticos acessíveis. Os estudantes acabam ficando dependentes de esforços isolados de alguns profissionais, o que não é suficiente para garantir uma verdadeira inclusão.

 

Esquecidos pelo sistema: jovens e adultos com deficiência

 

Ainda mais preocupante é a situação das pessoas com deficiência que estão fora da idade escolar obrigatória, ou seja, jovens e adultos que não frequentam mais o ensino fundamental ou médio. Para essa parcela da população, não existe qualquer tipo de suporte educacional, profissionalizante ou terapêutico. Não há cursos adaptados, centros de capacitação, nem políticas que incentivem a inclusão produtiva dessas pessoas no mercado de trabalho ou na vida comunitária.

 

Ausência de centros de apoio e suporte às famílias

 

O município de Senador Guiomard também não possui nenhum centro de apoio permanente voltado para pessoas com deficiência e seus familiares. A ausência de estruturas que ofereçam acompanhamento psicológico, terapias, orientação pedagógica ou encaminhamentos especializados evidencia um vazio institucional que compromete diretamente o bem-estar dessas famílias. Diante disso, muitas recorrem à capital Rio Branco em busca de atendimento — uma alternativa que, para muitas, é inviável por razões financeiras e logísticas.

 

O silêncio da política municipal

 

No campo político, a omissão também é evidente. Os vereadores do município ainda não se mobilizaram de forma efetiva para propor leis, destinar recursos ou fiscalizar a implementação de políticas públicas voltadas à inclusão. A pauta das pessoas com deficiência segue invisibilizada nos debates da câmara municipal, muitas vezes lembrada apenas em datas comemorativas ou em períodos eleitorais, sem continuidade nas ações.

 

De inclusão simbólica a inclusão real: um caminho urgente

 

Essa combinação de negligência institucional, falta de estrutura e omissão política resulta em um quadro de exclusão sistemática. Em vez de políticas públicas estruturadas, o que se tem são iniciativas pontuais e esporádicas, que não garantem acesso pleno aos direitos das pessoas com deficiência.

 

A inclusão, conforme preconiza a LBI, não se limita ao ingresso na escola. Ela exige permanência com qualidade, apoio contínuo, formação profissional, autonomia e participação ativa na sociedade. Em Senador Guiomard, essa inclusão ainda não é uma realidade. O que existe, na maioria das vezes, é uma integração simbólica, que não transforma a vida dos indivíduos nem garante seus direitos.

 

A inclusão não pode mais ser adiada

 

É urgente que o município reveja sua postura e construa, com participação social, um plano de inclusão verdadeira, que contemple a diversidade humana com respeito, dignidade e políticas públicas efetivas. A proximidade geográfica com a capital não pode ser desculpa para o descaso. A inclusão não pode mais ser adiada.

 

*Marcia Lindoso, 48 anos, Tec. em secretaria escola, pedagoga, servidora publica, acadêmica de Letras/Libras – UFAC, Pós graduada em Libras – FAVENI

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